
“CRIANDO CRIANÇAS PRETAS” ESTIMULA A IDENTIDADE NEGRA NA EDUCAÇÃO
Projeto, criado por duas amigas no interior de São Paulo, busca incentivar a consciência racial nos pequenos e também nos adultos, sendo negros ou brancos.
Por Isabela Cardoso e Larissa Maia
É possível ver, de forma explícita, a necessidade de buscar uma educação sem racismo na sociedade atual e, principalmente, incentivar uma consciência racial nas crianças e também nos adultos. O projeto "Criando crianças pretas", foi criado por Paula Batista, jornalista e mestre em divulgação científica e cultural, em parceria com Débora Bastos, publicitária e especialista em conteúdo para internet, ambas residentes do interior de São Paulo.
A iniciativa tem a intenção de levar discussões sobre o combate ao racismo e ajudar na criação da identidade de uma criança negra, além de divulgar esse conhecimento pelas redes sociais, como o Instagram. A ideia surgiu durante uma conversa entre as amigas, quando Débora fez uma festa para comemorar o aniversário de um ano do filho, com o tema "O Pequeno Príncipe Preto no reino de Wakanda" (referência ao país fictício na África, criado pela Marvel).
Durante a discussão de como criar uma criança de pele clara, com a identidade preta, despertou a necessidade de compartilhar com mais pessoas essas questões. "Pensamos que essas nossas questões poderiam fazer parte de mais pessoas, foi quando decidimos criar o instagram", contou Paula.
Com a alta repercussão e demanda de um público que se interessava pelo assunto, assim como o espaço que elas frequentam, Débora e Paula, passaram a enxergar o projeto um trabalho para as duas. Dessa forma, elas procuraram desenvolver diversas questões sobre as relações raciais nos espaços em que as crianças frequentam.

"A TAREFA DE CRIAR CRIANÇAS PRETAS NÃO É SÓ DOS PAIS, MAS SIM DE TODA SOCIEDADE"
É na internet que acontece a rede de comunicação antirracista, com conteúdos informativos sobre como orientar os pais a promover essa educação livre de racismo. A comunicação é feita para todas as famílias,negras e brancas, já que deve ser um trabalho em conjunto. "A tarefa de criar crianças pretas, não é só das famílias pretas, mas sim de toda sociedade, já que muitos dos processos racistas que as crianças passam, vem muito das famílias brancas, então é necessário falar também com essas famílias".
Com isso, traz a possibilidade de transformar as relações através dessa comunicação e construir um ambiente social acolhedor e de esperança em que as crianças negras se desenvolvam sem preconceito.
Após realizar uma pesquisa, a dupla percebeu que a escola é o primeiro lugar onde as crianças negras sofrem racismo. Com essa informação, sentiram a necessidade de levar o projeto ao ambiente escolar. O trabalho nas escolas é feito com todos os funcionários, desde o porteiro ao diretor, além das famílias, já que é muito importante o trabalho conjunto das instituições com os pais.
Com as crianças, é realizado um trabalho de empoderamento, levando uma nova visão sobre o que é ser negro na sociedade atual. Ou seja,é ensinado como ter consciência do poder de participação social e de valorização do negro, diferente do que elas aprendem na mídia e no meio que frequentam.
O projeto também realiza palestras em empresas, com o foco de trazer essas reflexões para o espaço, para que o tema de racismo não seja uma pauta somente em datas comemorativas, como o 20 de novembro, dia da consciência negra. Dessa forma, mostra-se como essa questão das relações raciais atinge todos os funcionários e como é possível realizar uma comunicação antirracista. "Nosso trabalho começou na internet, mas hoje ele tem uma abordagem além, para que essa rede de comunicação antirracista cresça cada vez mais".
